A edição de junho do G5 Talks contou com a participação de Marcelo Trindade — advogado, professor de Direito da PUC-Rio, ex-diretor presidente da CVM e ex-vice-presidente do Conselho da BM&F Bovespa. O CEO da G5 Partners, Corrado Varoli, e o sócio-sênior Levindo Santos conversaram com ele sobre o papel do cidadão na construção de uma sociedade mais próspera.
Em 2020, Trindade lançou o livro O caminho do centro: memórias de uma aventura eleitoral, sobre sua experiência como candidato ao governo do Rio de Janeiro em 2018. No ano anterior, foi um dos organizadores de 130 anos: em busca da República e ganhou o Prêmio Jabuti pela obra, que reuniu artigos de economistas, cientistas políticos, historiadores e juristas discutindo os principais fatos de cada década desde a Proclamação da República, em 1889. O G5 Talks é um projeto por meio do qual lideranças empresariais trocam experiências e aprendizados com o time da G5.
A corrida eleitoral
Durante o bate-papo, Trindade relatou detalhes dos bastidores de sua campanha eleitoral em 2018 ao governo do Rio de Janeiro, começando pela própria surpresa da sua candidatura. Isso porque Trindade assumiu o posto após a desistência do ex-técnico da seleção de vôlei Bernardinho — de quem, originalmente, ele seria companheiro de chapa, como candidato a vice-Governador. “Não havia planejado fazer essa viagem como protagonista. De fato, porque como não estava preparado para isso, foi um caminho muito difícil”, afirmou.
E o resultado eleitoral “foi muito frustrante”, de acordo com ele, menos pelos 80 mil votos recebidos, mas principalmente ao reconhecer que o eleito era o “outro candidato desconhecido”, Wilson Witzel — hoje afastado do cargo após um processo de impeachment.
“Foi eleito outro candidato desconhecido da população, com quem compartilhava outras semelhanças como a falta de experiência política prévia, formação em Direito e até a idade. Deixando de lado os méritos do próprio candidato em conseguir se eleger, esse quadro de semelhanças foi muito frustrante por evidenciar que a população queria mudanças e pessoas que pudessem representar uma possibilidade concreta de que isso ocorresse. Somado ao isso tudo, lembro que ainda ele passou 90% da campanha atrás de mim nas pesquisas.”
Apesar disso, Trindade revela que saiu otimista do processo eleitoral, pois entendeu que houve uma decisão consciente da população evidenciando que, contrariamente ao que muitas vezes se ouve, a população vota de forma atenta, mesmo que isso muitas vezes não seja suficiente para evitar que se cometam erros de escolha: “Com todas as limitações de compreensão do que está por trás de um processo político-eleitoral, da mensagem dos candidatos, da falsidade ou da verdade daquilo que está sendo dito, as pessoas queriam votar em quem elas votaram. Elas queriam um candidato firme, com discurso pró-repressão de crimes, pró-Bolsonaro e ao combate à corrupção. O eleitor acreditava na mensagem de quem venceu a eleição”, complementa. Trindade ainda destaca que foi uma experiência única e marcante em sua vida ter podido testemunhar de perto os anseios da população. Ele relembra que “o momento de entrega de panfletos no corpo-a-corpo com o eleitor foi a melhor parte da experiência, uma forma muito valiosa de estar próximo e de poder conversar com as pessoas”.
Rio de Janeiro de oportunidades
Mesmo considerando o Rio de Janeiro um estado brasileiro com imensas dificuldades, o professor afirma que a região dispõe de enorme potencial. “É um local que dispõe de muita gente capacitada e que oferece muitas oportunidades a serem exploradas. Há enorme rede pública e escolas municipais e a maior rede hospitais federais do Brasil, por exemplo. Há gente à beça e carência de muitas coisas. De certa forma, a ideia de administrar o Estado se assemelha ao desafio de pegar uma companhia em estado pré-falimentar para colocá-la para funcionar.” No bate-papo, Trindade destacou a importância de a nova geração se engajar na política. Segundo ele, o impacto de um projeto político bem-feito na vida das pessoas é incomparável.
“A geração atual é muito melhor na noção de priorizar o interesse público, de agir em favor dos interesses comunidade. O que ocorre é que a política continua nos afastando muito. Então, as pessoas decidem fazer outras coisas para participar da comunidade. Elas preferem se engajar em outros projetos, culturais e sociais, por exemplo, enquanto têm mais dificuldade de se filiar a um partido político. Precisamos pegar essa energia e transformar em movimento político stricto sensu.”
E finaliza: “minha mensagem para os jovens é que participem e mudem a política por dentro. É um campo muito vasto. Alguém com capacidade e talento é rapidamente percebido como alguém de destaque. Há bastante espaço para se atuar e o impacto é sempre relevante”.
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