Por Fernando Donnay, sócio e membro do time de gestão da G5 Partners.
Diversificação é aquele conselho que todo investidor já ouviu: “Não coloque todos os ovos na mesma cesta”. E isso não é apenas um ditado popular; é uma estratégia comprovada para minimizar perdas quando o inesperado acontece. O economista Nobel Harry Markowitz, pioneiro da Teoria Moderna do Portfólio, descreveu a diversificação como “o único almoço grátis” para investidores. Em essência, sua teoria demonstra que, através de uma alocação estratégica baseada em cálculos de risco e correlação entre ativos, é possível construir portfólios que otimizam retornos dentro de um nível aceitável de risco.
E o que a História nos ensina?
Um estudo recente do Morningstar[i], que analisou quase meio século de dados nos Estados Unidos, confirma a importância da diversificação quando se trata de redução de riscos. No entanto, descobriu-se que um portfólio simples composto de 60% em ações e 40% em renda fixa frequentemente superou portfólios mais diversificados em termos de risco e retorno. Interessantemente, o próprio Markowitz utilizava uma abordagem simplificada em suas finanças pessoais, alocando 50% em ações e 50% em bonds. Isso reforça a ideia de que, por vezes, o básico bem-executado pode ser a resposta mais eficaz diante das incertezas do mercado.
O paradoxo do investidor brasileiro
No Brasil[ii], a poupança ainda domina como principal opção de investimento, com 25% da adesão, refletindo um perfil conservador que busca segurança, especialmente em tempos de instabilidade econômica e alta inflação. Contudo, há um paradoxo intrigante: apesar dessa aversão ao risco nos investimentos tradicionais, os brasileiros estão entre os maiores apostadores online e preferem criptomoedas a títulos públicos do Tesouro Direto (4% contra 2%). É como dizer “não quero arriscar” enquanto, ao mesmo tempo, se aventura em apostas de alto risco. Essa dualidade evidencia uma busca por ganhos rápidos, mesmo entre aqueles que professam um perfil cauteloso.
Prazo: nosso maior aliado na diversificação
O horizonte temporal é um dos pilares mais robustos para o sucesso da diversificação. Enquanto muitos brasileiros almejam retornos imediatos – lembrando as apostas online –, um foco de longo prazo permite que a diversificação revele todo o seu potencial, suavizando a volatilidade dos ativos e equilibrando ciclos econômicos. Por exemplo, o S&P 500, apesar de já ter enfrentado décadas de desempenho negativo, demonstra retornos sólidos a longo prazo. Além disso, investimentos alternativos ilíquidos, como private equity e venture capital, exigem paciência e recompensam aqueles que suportam a menor liquidez com potencial de retornos superiores. Afinal, tentar obter ganhos rápidos no mercado é como apostar no cassino: uma receita garantida para a frustração a longo prazo.
Se diversificar é tão bom, por que as pessoas não fazem isso?
Daniel Kahneman, Nobel em Economia, explorou como vieses comportamentais e cognitivos influenciam decisões de investimento, frequentemente de maneira subótima. Mesmo Markowitz, considerado o mestre da diversificação, adotava abordagens simples que, por vezes, contradiziam sua própria teoria. Um exemplo notável é o fundo Magellan, gerido por Peter Lynch, que obteve retornos médios de 29,2% ao ano durante 13 anos. Entretanto, muitos cotistas perderam dinheiro ao investir em momentos inadequados, entrando quando o fundo subia e resgatando quando caía. Esses vieses emocionais fazem com que vários investidores ignorem a importância da diversificação, acreditando erroneamente na capacidade de “acertar na mosca” com ações específicas ou apostas arriscadas.
Conclusão: diversificação, paciência e visão de longo prazo
Diversificar permanece sendo uma estratégia essencial para quem busca segurança e crescimento sustentável nos investimentos, inclusive no Brasil. Mesmo diante de mudanças nas correlações entre ativos e de um cenário econômico desafiador, a diversificação continua se mostrando a abordagem mais eficaz para proteger o portfólio contra as incertezas do mercado. A afirmação de Markowitz sobre a diversificação ser “o único almoço grátis” ainda ressoa, lembrando que, embora não existam retornos garantidos, é possível equilibrar riscos e retornos de maneira saudável.
No contexto brasileiro, onde o perfil conservador contrasta com a disposição para arriscar em criptoativos e apostas esportivas, é fundamental entender e mitigar os próprios vieses comportamentais. Incorporar a diversificação de forma consciente e utilizar o prazo a favor são elementos-chave para enfrentar turbulências e aproveitar oportunidades. Entretanto, se o horizonte de investimento é curto, resistir à tentação de ganhos rápidos e optar por investimentos mais seguros, como os títulos do Tesouro pós e ligados à inflação, pode ser a escolha mais prudente.
Diversificação: o único “almoço grátis” para investidores?
No Brasil, o paradoxo é evidente: enquanto a poupança domina entre os investimentos conservadores, criptomoedas e apostas online ganham cada vez mais espaço.
O primeiro G5 Insights fala de diversificação de investimentos e visão de longo prazo. Nosso sócio e membro do time de Gestão, @Fernando Donnay, escreveu uma excelente avaliação sobre o tema.
O segredo para navegar entre segurança e crescimento sustentável? Diversificação, paciência e visão de longo prazo.
[i] Diversification Landscape_2024 – Morningstar
[ii] 7ª edição do Raio X Brasileiro – Anbima.