
A adoção de dispositivos móveis foi o maior fator de disrupção tecnológica dessa década. É inegável o seu impacto no nosso dia-a-dia, tendo mudado a forma como nos comunicamos e a frequência com que nos mantemos conectados.
A adoção em massa de dispositivos móveis teve uma contribuição crucial para o crescimento da penetração da internet a nível global, saltando de 24% para 51% em 10 anos:
Penetração da Internet no Mundo – 2018

Fonte: Bond internet trends 2019
Ao passo que o desktop apresenta certas barreiras para sua difusão, o smartphone provou ser muito mais acessível, tanto para usuários da geração Z – que já nascem digitais – quanto para os “baby boomers” e para boa parte da geração X.
Já as empresas, tiveram que rever seus modelos e hábitos de comunicação para se adaptar ao novo dispositivo — o mobile não inventou as redes sociais mas certamente as popularizou. Novos modelos de negócios surgiram a partir do pensamento “mobile-first” ou ainda “mobile-only”, trazendo profundos impactos no modus vivendi atual — não daria para se imaginar negócios como o Uber e Ifood nascendo sem o componente mobile associado a eles.
No entanto, toda novidade atinge seu ponto de maturidade. Depois de anos de crescimento exponencial o número de unidades de smartphones enviados às lojas em 2019 afinal será menor que em 2018:
Novas unidades de Smartphone enviadas ao varejo vs Crescimento Ano a Ano

Fonte: Bond internet trends 2019
Assim, se o fator mobile representou uma oportunidade no início dessa década, agora já se consolidou como o novo status quo.
De fato, empresas têm buscado se adaptar cada vez mais a essa nova realidade. Como evidência, temos a relação de investimento em publicidade versus o tempo que investimos em cada mídia.
% tempo gasto em cada meio vs % Investimento em publicidade no meio

Fonte: Bond internet trends 2019
O que esse dado nos mostra? Que em 2010 as empresas não acompanharam o comportamento de seus clientes: naquele ano, já passávamos 8% do nosso tempo em dispositivos móveis, mas o investimento em publicidade nesse meio era apenas de 0.5% do total. Destaque-se como em 2018 essa relação está muito mais coerente: smartphones capturam 33% do nosso tempo e também do investimento em publicidade.
À primeira vista, esse cenário de estabilidade não é compatível com o frenesi e a frequência com que o tema de dispositivos móveis apareceu na mídia em 2019. Afinal, jornais e revistas vivem de falar de novidades e não da repetição contínua do status quo. O que dá sentido e reconcilia esses fatos é a chegada do 5G.
Para explicar o impacto da chegada do 5G utiliza-se a analogia da substituição da rede discada pela banda larga. Foi essa última que viabilizou empresas como Netflix e Youtube. Nesse contexto, estima-se que o impacto do 5G será proporcionalmente ainda maior.
Ao multiplicar a velocidade e diminuir a latência da rede móvel, aplicações que vão de carros autônomos a cirurgias realizadas remotamente por meio de robôs controlados por médicos gradualmente sairão da escala de nicho para finalmente beneficiar grandes massas de consumidores.
A tecnologia para tais aplicações já existe, falta apenas a disponibilização de infraestrutura adequada para que esse cenário comece a fazer parte da nossa realidade. Se alguns desses conceitos soam como ficção científica, assim também soava a ideia de assistir séries e filmes em um contexto 100% sob demanda em 2001, antes do advento da banda larga.
Como observamos nos últimos quinze anos, limitada é a capacidade de previsão dos analistas mas não a engenhosidade dos empreendedores que, com acesso a um fluxo de capital abundante e a tecnologias disruptivas, certamente continuarão a nos surpreender.
Rodolpho Gurgel – ex-CEO da Bidu Corretora, corretora de seguro líder online, e atual fundador da Tema, consultoria especializada em marketing digital e tecnologia
Maurício Alexandre – foi CMO da Bidu Corretora e diretor de mídia na agência F.biz, fundador do Mídia Método e consultor de marketing digital