Voltar

Fusões e aquisições

janeiro 2024

Por Daniel Lombardi, sócio e diretor da G5 Partners 

O mercado defusões e aquisições no Brasil registrou o segundo maior número de transações dos últimos 20 anos, apesar dos grandes desafios enfrentados com a pandemia da covid-19. As transações domésticas sustentaram esse resultado, mantendo-se no mesmo patamar de 2019, enquanto as aquisições envolvendo empresas estrangeiras apresentaram queda de quase 30%. Os setores de tecnologia e telecom foram os destaques do ano, somando o maior número de transações. Há que se destacar que 2020 foi um ano atípico. Após um início promissor, a chegada da pandemia em meados de março provocou incertezas ao longo do segundo trimestre, forçando empresas a adotarem uma postura de máxima cautela e a interromperem iniciativas de desenvolvimento estratégico durante o período. Por outro lado, a subsequente retomada da atividade econômica em ritmo mais acentuado do que o esperado tornou o segundo semestre muito intenso. Ao final, o balanço anual foi de mais de 1.110 transações anunciadas, representando uma queda de apenas 9% em comparação a 2019 — o segundo melhor resultado dos últimos 20 anos. No ano, verificou-se uma mudança importante no perfil das transações. Primeiro, um aumento de negócios envolvendo empresas locais: mesmo considerando-se a base elevada de negócios de 2019, o número de transações cresceu 2%, o quarto recorde consecutivo. Por outro lado, houve queda de 29% no número de transações envolvendo empresas estrangeiras. 

Além da pandemia, a queda nas taxas de juros e a depreciação cambial são fatores que ajudam a explicar esses números. Para as empresas locais, houve, por exemplo, a possibilidade de captação de recursos a um custo muito atrativo — realidade que não existia em um passado recente de juros substancialmente mais altos. Na outra ponta, verificou-se a transferência de uma liquidez relevante anteriormente alocada em ativos de renda fixa tradicionais para instrumentos estruturados de dívida e para equities, em busca de rentabilidade adicional. Nesse contexto, empresas capitalizadas partiram com mais apetite para implementar estratégias de crescimento e consolidação via aquisições. Apenas como referência, em todo o ano, 28 novas empresas abriram capital na B3 enquanto 24 empresas já listadas captaram recursos na Bolsa (ofertas de follow-on), resultando em um volume total captado da ordem de R$ 116 bilhões. Também houve mudanças importantes com relação às dinâmicas setoriais. Setores ligados a tecnologia e telecom se beneficiaram, dada a maior pressão por inovação e conectividade imposta pela pandemia. Transações importantes incluíram a aquisição da Linx pela Stone e a venda dos ativos de móvel da Oi no âmbito de sua recuperação judicial. A captação de recursos e a expansão das atividades das empresas de tecnologia dedicadas à prestação de serviços financeiros (fintechs) também tiveram destaque ao longo do ano. 

Por outro lado, o programa de privatizações do governo federal avançou menos do que o previsto. Atividades como turismo e hotelaria enfrentaram maiores desafios, o que levou à busca por capitalização ou mesmo à venda de ativos para equalização das necessidades de capital. Verificamos também um movimento de fusões em setores fortemente impactados pela pandemia, com companhias visando a um fortalecimento operacional e financeiro para enfrentar a crise. Esses movimentos são comuns para navegar os momentos mais turbulentos de mercado, objetivando união de forças para capturar sinergias, como a racionalização de custos e despesas. 

Cenário 2021 

O panorama para o mercado de fusões e aquisições para 2021 é positivo, com um cenário econômico apontando para a manutenção de baixas taxas de juros e uma gradual retomada da atividade produtiva. Os setores de tecnologia e telecom devem continuar em um momento positivo, com intensa atividade dos fundos de venture capital e private equity na alocação de capital em empresas de tecnologia no país. Fintechs e insurtechs devem se beneficiar também com as mudanças previstas no ambiente regulatório e com o open banking, bem como continuar um movimento de crescimento e expansão frente aos incumbents. Em telecom, a consolidação dos ISPs (provedores regionais) deve ganhar força, um caminho natural em um setor intensivo em capital. As transações de InfraCo das incumbents também devem movimentar o mercado. Já saúde e educação continuam com dinâmicas muito positivas no país, com amplo espaço para consolidação e crescimento. O recente IPO da Rede D’Or, o maior desde 2013 na B3, reforça a tese de investimentos no setor de saúde, e a disponibilidade de capital pode fomentar e acelerar os processos de consolidação. 

O setor de real estate deve continuar em destaque, com o apetite de investidores por ativos geradores de renda. Em 2020, houve recorde no número de emissões dos Fundos de Investimento Imobiliários – FIIs (mais de R$ 44 bilhões), e um bom resultado deve se repetir neste ano. Adicionalmente, o maior controle da pandemia da covid-19 deve ajudar a reduzir incertezas, fomentando ainda mais transações no segmento. Outro setor com um momento positivo para 2021 é o de infraestrutura. Há carência de investimentos no país, e a liquidez e o apetite por risco de investidores abrem um leque maior de opções de estruturação financeira de negócios. Devem-se observar, em especial, as transações no segmento de saneamento, que vem recebendo cada vez mais investimentos privados em meio a seu novo marco regulatório. 

Copyright © G5 Partners – Além dos Resultados – Todos os direitos reservados – Política de Privacidade. LEN comunicação e branding