Conheça a história de Wellington Vitorino, fundador do Instituto Four
Levindo Santos, Sócio-sênior da G5 Partners

Neste segundo texto da série de artigos contando as histórias de alguns empreendedores brasileiros, focamos nossa atenção no jovem Wellington Vitorino, de 26 anos, fundador e líder do Instituto Four. Acreditamos que tão importante quanto reconhecer e aprender com as histórias daqueles que a seu tempo souberam forjar o sonho brasileiro de desenvolvimento seja conseguir identificar e valorizar iniciativas de empreendedores contemporâneos engajados em escrever os novos capítulos da nossa história.
“Nada é permanente, exceto a mudança”. A frase do filósofo grego Heráclito de Éfeso (504-456 a. C.) tem mais de 2.500 anos, mas nunca foi tão atual.
Vivenciamos, hoje, transformações cada vez mais rápidas e com enorme impacto em nosso modus vivendi. Mais do que a simples inovação materializada sob a forma de produtos e serviços, a redefinição das fronteiras do nosso conhecimento nos campos da ciência e da tecnologia altera o perfil das sociedades contemporâneas. O homem, antes refratário a mudanças, parece lidar cada vez melhor com a noção de um mundo em constante mutação e com a imprevisibilidade do seu futuro.
No centro desse processo está o empresário-inovador ou, na definição do economista austríaco Joseph Schumpeter (1893-1950), o “empreendedor”. É ele o agente das transformações que ocorrem, via de regra, por meio das combinações mais eficientes dos fatores de produção, fazendo com que produtos e serviços tornem-se obsoletos e sejam substituídos por outros, mais completos e eficientes. Dessa “destruição criativa” surgem diferentes métodos de produção, muitas vezes valendo-se de novas fontes de matérias-primas, levando ao desenvolvimento de mercados e à redefinição da dinâmica competitiva.
Esse fenômeno ocorre com mais frequência e intensidade nos países desenvolvidos, onde o ambiente e a cultura geral de negócios estimulam a atividade empreendedora. Na prática, a qualidade da infraestrutura e um ambiente de negócios dinâmico e predisposto ao risco constituem importantes estímulos ao desenvolvimento de uma cultura empreendedora. Por outro lado, baixas taxas de escolaridade, sistemas de saúde inadequados, complexidade burocrática e interferência estatal frequente dificultam sobremaneira o processo.
Mas, talvez, o maior desafio para países em desenvolvimento seja alterar a percepção convencional de gestores públicos que, via de regra, falham em compreender no empreendedorismo um motor de transformação socioeconômica. Em geral, países que não capacitam e nem estimulam o cidadão comum a adotar uma postura empreendedora no seu dia a dia não potencializam suas vantagens comparativas e tampouco desenvolvem autonomia para definir seu próprio futuro.
No caso do Brasil, por exemplo, as políticas públicas direcionadas ao incentivo e promoção do empreendedorismo têm sido consistentemente limitadas, tanto em profundidade quanto em escopo. Além disso, ao se apropriarem indevidamente do termo “empreendedor” para, na prática, promover apoio ao autoemprego de subsistência, os responsáveis pela formulação dessas políticas prestam dois enormes desserviços ao país. Primeiro, nivelam por baixo as expectativas, estabelecendo a simples sobrevivência como referência de sucesso. Por mais relevante que seja o apoio ao trabalhador autônomo — e muitas vezes informal — isso em nada tem a ver com empreendedorismo e muito menos com seu papel como agente de inovação e desenvolvimento. Segundo, ao propagarem as falácias de que o Brasil é o país com o maior contingente de empreendedores no mundo — medido pelo número dos chamados microempreendedores individuais (MEI) – e de que temos tido sucesso em criar um ambiente de negócios que estimula o empreendedorismo — por meio de iniciativas como o sistema tributário do Simples Nacional –, apenas se escondem atrás da sua própria mediocridade para, na prática, asfixiar o potencial empreendedor da Nação.
Mas, por maiores que sejam a incompetência de nossos gestores públicos e nossas carências infraestruturais, elas não se constituem em barreiras intransponíveis. Isso porque, como disse o escritor francês Victor Hugo (1802-85), “pode-se resistir à invasão de exércitos, não à invasão de ideias”. E, hoje, a ideia invasora é a do empreendedorismo como agente de um novo tipo de revolução: silenciosa e liderada por gente que valoriza o coletivo, possui uma visão privilegiada do mundo e, sobretudo, pensa grande, muito grande. Antes de qualquer coisa, esses empreendedores revolucionários sabem que reclamar não resolve nada e, por isso, partem para a ação movidos sempre por um forte sentimento de urgência.
No Brasil, um dos exemplos mais extraordinários dessa rara casta de líderes é Wellington Vitorino, um jovem de 26 anos, nascido e criado no interior fluminense de São Gonçalo. De certa forma, a história pessoal de Wellington sintetiza em si mesma toda a inexorabilidade desse processo. Negro, pobre e criado numa região marcada pela violência, já teria sido louvável se Wellington tivesse se resignado a simplesmente seguir o caminho do bem, aceitando-o como o melhor que a vida poderia lhe reservar. Mas não, Wellington foi além e traçou outro destino para si, passando a trilhá-lo ainda bem cedo. Mais precisamente, aos 8 anos de idade, quando decidiu ganhar seu próprio dinheiro. Aos 16, numa das suas mais arrojadas empreitadas, conseguiu ingressar numa das melhores escolas privadas de ensino médio do Rio onde, sabia, teria chances de ingressar numa universidade de ponta. Aos 20, recém-formado em Administração de Empresas pelo IBMEC, abriu mão de ofertas de trabalho em algumas das mais admiradas empresas do país. Tinha pressa para pôr em prática o seu “sonho grande”. Decidiu, então, usar todas as economias acumuladas como monitor na faculdade para, como ele próprio gosta de dizer, “pôr a mão na massa e realizar o sonho grande de transformar o Brasil”.
Em 2015, Wellington se juntou a dois amigos, Everson Alcântara e Lucas Leal, para fundar o Instituto Four, uma instituição sem fins lucrativos que busca selecionar, formar e desenvolver jovens líderes para pensar em maneiras de solucionar os maiores problemas do Brasil. Como critério fundamental, o Instituto trabalha com jovens que almejam ocupar os principais espaços de tomada de decisão do País.
O carro-chefe do Instituto Four é o Programa ProLíder que, em 2018, acaba de concluir sua quarta edição e nesse ano recebeu quase 10 mil inscrições de todo o país. Após um criterioso processo, 53 jovens foram selecionados. Trata-se de um programa gratuito e muito bem estruturado que ocorre aos finais de semana e dura sete meses. Seus encontros fomentam a discussão do cenário brasileiro atual e contam com a participação de importantes referências nacionais como Claudia Costin, Ricardo Paes de Barros, Florian Bartunek, Carolina da Costa, Renato Mazzolla, André Steet, todos cativados pela proposta do Instituto. Trabalham em caráter pro bono, compartilhando tempo, experiências e conhecimentos com os futuros ProLíderes. O objetivo central do programa é qualificar os participantes a criar “negócios de transformação” que contribuam para o desenvolvimento do Brasil.
Depois de formados, os ProLíderes retornam para suas regiões de origem e assumem o papel de agentes de transformação em suas próprias comunidades. Uma vez ProLíder, sempre ProLíder. Por isso, o compartilhamento de experiências entre os graduados ocorre de forma permanente, por meio de uma comunidade ativa e engajada. Hoje, os primeiros graduados já estão inseridos no mundo real. São quase 100 ProLíderes, empreendendo e cumprindo a missão de transformar suas comunidades e de revolucionar o país. E isso é só o começo.
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Wellington e eu fomos apresentados por um amigo em comum que achou que precisávamos nos conhecer. Minha primeira impressão do jovem de quase 1,90 metro e sorriso largo foi de simpatia. O forte sotaque e o jeito descolado também ajudaram. Depois de um rápido prelúdio carioca, Wellington disse que precisaria de “uma horinha” para me contar sua “historinha”. Sempre sorridente, centrou, então, seu olhar de brilho intenso no meu e, sem rodeios, começou a me contar como ele e seu exército de amigos estavam transformando o Brasil. O que se seguiu foi um verdadeiro tsunami, de informações e de emoções.
Wellington tem pressa: “o Brasil é um país pobre e está se tornando também velho. Essa é uma combinação perversa e, por isso, precisamos agir agora”. Com a coragem e competência dos grandes líderes, recusa-se a conjugar o Brasil na terceira pessoa. Fala dos problemas do país incluindo-se neles e definindo-os sempre de forma completa, sem a comodidade de restringi-los à conveniência de suas limitações. Diligente, tem um plano de ação detalhando o que pretende fazer e como chegará lá. Não há atalhos ou alternativas que possam substituir o objetivo traçado. Por fim, demostra possuir a virtude maior dos empreendedores revolucionários: a generosidade.
Senti isso quando, ao final da nossa conversa, percebendo o impacto que causara em mim, Wellington abriu mais uma vez seu sorriso característico. Ele sabia que tínhamos nos conectado. Mesmo em silêncio, foi como se dissesse saber que eu, um dia, também pensara poder transformar o país. Que talvez até tivesse tentado para depois, frustrado, desistir. Mas que isso já não importava, porque agora ele mostraria o caminho para realizar o seu sonho grande. Aliás, seu não, nosso sonho grande. Porque o menino-tsunami de São Gonçalo já sabe que as verdadeiras revoluções só ocorrem quando conjugadas na primeira pessoa, do plural.